Oh! grandiosa tela de infinita,
Surpreendente, divina beleza!
Um mar de nuvens a meus pés se agita!
No azul distante que ideal pureza!
In “Singelos”
Ana Adelina Bett. da Costa Nunes
O Pico do meu encanto, maravilha sem igual, quando o Sol nasce e ele aparece, dominador, rei da natureza que a seus pés se estende, numa prostração submissa, é um assombro que nos domina, nos subjuga, nos encanta.
O Pico é uma das maravilhas do Mundo. Há muito que o é. Só agora, porém, foi “descoberto”... E ele ali está, sempre patente aos olhos dos curiosos, dos poetas, daqueles que vivem à sua ilharga, quer um manto branco o cubra, quer o sol resplandecente nele reflicta seus raios nas manhãs radiosas da Primavera, do Verão ou até do Outono.
É maravilhoso para ele olhar quando, ao amanhecer, se apresenta livre de nuvens e num doirado do Sol que vem nascendo.
“Montanha do meu carinho / Desta ilha guardiã / Onde o sol bate mansinho / Logo cedo p’la manhã”, (1)
Sempre que surge a luz do dia volto-me para o Pico. Ele é o barómetro que regula a vida das pessoas. Conforme a posição das nuvens, indica o lado do vento. As posições delas são também indício de bom ou mau tempo, se todo ele descoberto, traz-nos a alegria de um dia bom, maravilhoso, que permite aos residentes, e àqueles que aqui chegam em ocasiões de férias, desfrutar as encantadoras paisagens que se guardam no interior da ilha ou as suas praias calmas e solarengas.
Como diz o Poeta, “Pode escrever-se um poema com basalto /com pedra negra e vinha sobre a lava / com incenso mistérios criptomérias/ e um grande Pico dentro da palavra. – Ou talvez com gaivotas e cagarras / cigarras do silêncio que se trilha / sílaba a sílaba até ao poema que está escrito / lá em cima no Pico sobre a ilha (2)
Nunca subi o Pico. Nem ânimo nem força física isso me aconselhava, mas tive o prazer de o sobrevoar, por gentil deferência do Piloto que conduzia a nave onde viajava, e fiquei profundamente encantado. Vi a cratera com seu alto bordo, aqui voltada para o lado Sul, que a parte do Norte é inacessível pelas lombas de areia que a formam. Extasiei-me com o Pico pequeno, formado por enormes rochedos e donde saem as fumarolas que não consegui descobrir.
A soberba montanha, voltada para o Sul da Ilha, descendo pela Prainha até ao mar, onde as ribeiras que nela se formam, vêm despejar montanhas de água em épocas de chuvas intensas, ou espraiando-se nas belas pastagens de São João, as Cavacas, formando a baía que se estende a Oeste e forma a bacia que liga São João às Lajes, é qualquer coisa de belo que só os poetas, em inspiração momentânea, podem enaltecer.
E quando, ao entardecer, o Sol se vai escondendo, por detrás da Montanha, rastejando-a de seus raios de multicolores, que nem os pintores mais hábeis são capazes de fixar em suas telas, arrebata-nos sobremaneira e deixa-nos por momentos profundamente suspensos e enleados.
Embora mal descrito nestas mal alinhavadas regras, é este o nosso Pico. Pico que é a montanha soberba mais alta de Portugal, agora classificada como uma das sete maravilhas do mundo (?) ou uma das duas do Arquipélago, que outras belezas possuem.
E com o inspirado Poeta nosso, Doutor José Enes, que excelentemente a cantou, aqui deixo a crónica de hoje; Montanha do meu segredo / Montanha do meu destino /Tocaste-me com um dedo/ Imprimindo em mim um signo / Quando me viste nascer.
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1) - Martins, Cisaltina – “Raiz de Pedra” – Poemas – 2008, pág 78
2) . - Alegre, Manuel – Pico -1998 – pág 9
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